7 segredos de uma garota (que já viu de tudo)
reflexões de quem fez aniversário ontem...
eu nasci no mesmo ano que a Lorde.
começo a edição de hoje citando esse detalhe banal porque, se você não identificou, o título é uma referência à canção “Secrets from a Girl (Who’s Seen It All)” do álbum Solar Power, que ela lançou em 2021.
e por mais que a Lorde não seja exatamente a minha cantora favorita, o fato de termos nascido no mesmo ano faz com que os temas que ela aborda nos álbuns sempre me gerem muita identificação.
foi o que aconteceu com Pure Heroine, que embalou meus 17 anos rebeldes com direito a lápis de olho borrado e obsessão pela série Skins, e com Melodrama, quando eu me sentia perdida e à flor da pele aos 21.
Solar Power foi ainda mais marcante: aos 25, eu estava fora da casa dos meus pais (e do meu estado) há dois anos e finalmente conquistava um pouco de estabilidade na vida, em meio a muitas dúvidas.
eu morava numa kitnet infestada de baratas que fervia de calor no verão fluminense, em busca de coisas maiores e melhores e do brilho de viver numa grande cidade do Sudeste.
as faixas do álbum não só embalaram muitas tardes de trabalho como também me fizeram refletir sobre o processo de deixar pra trás a adolescência, embarcar nas incertezas de ser crescida e me enxergar como uma mulher.
ontem fiz 29 anos e o álbum ainda faz sentido pra mim, especialmente a faixa que inspirou essa edição.
e é refletindo ao som dessa música que escrevo a introdução desse texto, percebendo que eu não vi tudo ainda, mas já aprendi bastante.
é isso que eu quero compartilhar com você hoje.
posso te contar meus segredos?
1. você sempre pode ir embora, mas liberdade vem de dentro.
eu pensava que, se pudesse evitar todos os lugares onde já me machuquei e todas as pessoas que já me viram sendo uma idiota em algum grau, eu me sentiria muito melhor sobre tudo.
então foi isso que eu fiz: fui embora.
me lembro de entrar no avião com a sensação de que eu recomeçaria do zero, que me sentiria como uma folha de papel em branco.
me senti tão próxima da liberdade, do esquecimento, do perdão.
ah, como eu estava errada…
você só se liberta de verdade quando isso acontece dentro de você.
mesmo que você mude de cidade, de estado, de país, de continente, a bagagem que você carrega por dentro vai te seguir.
você não vai automaticamente perdoar quem te feriu só por estar longe.
nem vai se perdoar só por estar recomeçando.
o processo de superar algo é longo e cheio de altos e baixos. demanda autoconhecimento, autocrítica, mas, acima de tudo, a capacidade de perdoar: seus erros, os erros dos outros. as amizades que terminaram mal, os corações partidos.
porque o mundo é uma grande primeira vez.
quanto às coisas que não tem perdão? sobre essas, eu ainda não sei.
2. a vida não é sobre conclusões
você não vai conseguir dizer tudo que queria ter dito.
muitas conversas e conclusões vão acontecer só na sua cabeça.
ouso dizer que a maioria delas, até. porque a vida é tão imprecisa quanto imprevisível.
então, quanto mais você conseguir aceitar que nem toda história vai ter um fim propriamente dito, mais fácil se torna seguir em frente.
algumas coisas vão acabar rápido demais, algumas pessoas vão sumir sem que você possa fazer nada, algumas justiças não serão feitas.
da mesma forma que alguns e-mails vão chegar na sua caixa de entrada depois de muitos anos e você vai escolher não responder, e pessoas vão tentar voltar pra sua vida mas você vai preferir seguir em frente sem elas.
ninguém te deve uma conclusão, nem você deve uma conclusão a ninguém.
aceite que muita coisa vai ficar em aberto e siga. o tempo vai fazer o trabalho dele, te garanto.
3. tá tudo bem ter sido quem você foi
eu tendo a ser muito autocrítica. isso é uma benção e uma maldição:
por um lado, tenho autoconsciência o suficiente pra saber quando errei e poder fazer algo a respeito, mas por outro é muito fácil que a autoconsciência se torne uma prisão.
sim, faz parte do processo de autoconhecimento entender que você foi sim a errada em algumas histórias.
e sim, quanto mais você aprende quem você é, mais duro é lembrar de como você agia enquanto ainda não sabia quem era.
mas é meio injusto observar as desventuras dos anos passados com as lentes de um córtex pré-frontal já desenvolvido, não?
não faz sentido julgar tanto o seu eu do passado que não sabia o que você sabe agora, e que não tinha as ferramentas que você tem hoje para lidar com seus problemas e frustrações.
essa vai pra todas que foram “adolescentes difíceis” em algum nível: tá tudo bem ter sido quem você era, porque isso te ensinou a ser quem você é hoje.
4. seja sua maior cúmplice
é maravilhoso ter amigas e amores, e quando somos jovens, damos uma importância gigantesca a isso.
nessa fase, essas relações acabam ditando tanta coisa — nossa autoimagem, nosso jeito de falar, os lugares que frequentamos.
mas, se eu pudesse dar um conselho pro meu eu do passado, seria esse: acima de tudo, seja sua própria cúmplice.
hoje em dia minhas amigas dão risada quando digo coisas como “eu sou minha maior amiga, não vou fazer isso comigo mesma”, quando decido pular fora de alguma situação.
mas é verdade.
quando a gente se torna nossa amiga, a gente para de se esforçar para caber no mundo das outras pessoas. para de pensar tanto em agradar. para de sentir medo do que vão pensar caso ajamos como verdadeiramente queremos agir.
ser sua própria cúmplice é uma forma de respeitar seu coração e suas vontades mais verdadeiras. de só ficar nas situações que você realmente quer ficar.
afinal, quem melhor que você mesma pra saber o que você quer pra si?
isso não vale só para tomadas de decisão, mas também para desenvolver sua independência: e daí que você não tem alguém pra ir com você naquela aula experimental de dança que você tanto queria fazer?
vá em sua companhia.
se leve ao cinema, saia pra almoçar consigo mesma, saiba ser só.
saiba guardar uma parte de você só pra você mesma.
isso vai elevar sua relação com o outro para um novo patamar.
5. se você não decidir um caminho, a vida vai decidir por você
é muito difícil decidir um caminho pra seguir, especialmente na sua vida profissional. passo por isso na pele.
mas a verdade é que os dias te levam sem você nem perceber.
você trabalha no emprego que não tem a ver com você a semana inteira, e, de repente, se vê tentando desenrolar os fios do pisca-pisca da árvore de natal outra vez.
mais um ano vai embora, e depois mais outro.
quanto mais envelheço, mais sinto que o tempo passa de outro jeito. muito mais rápido, não importa o que eu tente fazer pra desacelerar.
percebi que, se você não se encarregar de decidir onde quer estar e o que quer fazer, a vida vai te encaminhar pra uma direção qualquer.
por isso, ainda que você não saiba qual caminho seguir, saiba pelo menos onde você não quer estar.
você não precisa de todas as respostas, mas precisa saber o que evitar.
antes que a vida te leve.
6. a coisa mais importante que uma mulher pode desenvolver é a habilidade de pensar criticamente
o mundo às vezes faz parecer que a coisa mais importante de todas é ser lida como alguém bonita e interessante em qualquer ocasião.
acho que em maior ou menor nível toda mulher já se viu nessa busca, mas é muito fácil se perder perseguindo isso.
porque a gente se perde de si cada vez que escolhe fazer algo pra ser vista de determinada forma pelo outro.
e a gente se perde de si cada vez que toma uma decisão baseada numa imagem a ser projetada.
se inspirar é legal, mas você precisa ter suas próprias ideias.
se não sua vida vai ser uma eterna corrida que não chega em lugar algum: porque hoje o que está em alta é ser de um jeito, amanhã é ser de outro.
eu acredito que a coisa mais importante que uma mulher pode aprender a fazer é pensar: eu quero mesmo isso, ou é isso que querem que eu queira?
essa pergunta vale pra tudo, mas especialmente para questionar os seus padrões de consumo e beleza.
7. tentar é lindo, não deixe ninguém te fazer acreditar no contrário
cada vez mais eu amo presenciar gente tentando.
um novo corte de cabelo, um hobby diferente, um outro jeito de encarar as coisas.
mesmo que depois você decida que aquilo não é pra você e mude de ideia (afinal, a incoerência faz parte de todas nós).
acho que tentar é a parte mais bonita de ser humana.
tentar, mesmo tendo que encarar a vergonha de ser iniciante.
tentar, mesmo que não dê certo e todo mundo veja que não deu.
tentar, mesmo que flopar pareça a pior coisa que pode te acontecer.
tentar, mesmo que o resultado seja imperfeito e que te vejam tentando.
tentar, porque a vontade de realizar algo é grande a ponto de superar tudo isso.
eu admiro todo mundo que está tentando.
e espero seguir sendo alguém que tenta.
enfim…
envelhecer é incrível.
é maravilhoso ser dona do seu nariz, do seu tempo e das suas escolhas.
e, se tem algo que esses quase 30 anos de vida me ensinaram, é que a parte mais incrível de crescer é aprender: com quem você já foi (pro bem e pro mal), com o que te machucou e com o que te encheu de alegria.
ao mesmo tempo que tudo parece que foi ontem, um caminho longo já foi percorrido.
quando eu era adolescente, morria de medo de deixar de ser jovem.
hoje, não vejo a hora de passar mais 29 anos aprendendo e conhecer meu eu de 58.
nem imagino tudo o que ela vai ter pra me ensinar.
por hoje é só! obrigada por ler até aqui.
espero que tenham gostado dessa edição de aniversário e que as lições que aprendi te sirvam de alguma forma.
leia sete coisas sobre outros assuntos clicando aqui :)
um bjo, um qjo e até a próxima.
que lindo seu texto e as referências ao Solar Power, ele é meu disco favorito da Lorde. E é sobre... crescer tem suas loucuras, mas eu não queria voltar a ser criança. Me imagino um adulto/velho barbudo e gostoso, com meu marido, alguns cachorros, quem sabe filhos e livros publicados? Quero ser famoso, mas não ser refém da fama... ai não seiiii. fiquei pensando sobre meu futuro agora. um beijo!
Tanto aprendizado bom e lindo, obrigada por compartilhar por aqui🤎 Feliz aniversarioo