7 coisas que aprendi (a duras penas) sobre rotina
porque eu insisto em querer ser feliz e produtiva ao mesmo tempo
no meu primeiro post aqui no Substack eu estava divagando sobre a necessidade de me forçar a prestar atenção e vivenciar as coisas de verdade, sem pausas para pular de app em app (pra ver o quê, mesmo?).
desde que 2025 começou esse segue como meu principal objetivo — viver cada dia com intenção e ter espaço para fazer coisas que são importantes pra mim, ou seja, fazer uma melhor gestão do meu tempo.
e como é difícil!!! não bastasse a distração que só os algoritmos conseguem nos proporcionar, ter um trabalho demandante entra na equação e também me afasta do que busco com isso: ter uma rotina onde a produtividade não mate minha alegria.
isso é tão importante pra mim porque passei cerca de 4 anos completamente distante de tudo que eu mais gostava de fazer: escrever, pintar, ler, caminhar sem rumo e sem hora pra voltar, sonhar acordada… minha rotina era basicamente cumprir minhas funções básicas de ser humano para poder continuar produzindo/trabalhando.
almoçava um miojo pra “ser mais rápido” porque parar pra comer me “atrapalhava” no trabalho, já que me fazia “perder o fluxo” e o “fio da meada”.
nem preciso dizer o quão frustrada, sem energia e pouco saudável eu estive.
assim, tomei uma importante decisão:
eu vou fazer minha vida caber dentro dos dias, custe o que custar. eu não vou aceitar acordar-rolar o feed de todos os aplicativos-trabalhar-ver reality show-dormir, porque uma vida assim não me sustenta nem me cabe.
aos poucos, com dificuldade e muitos altos e baixos, eu fui colocando as coisas no lugar: tempo pra mim, tempo pra fazer o que amo, tempo pra não fazer nada. três tempos que eu definitivamente precisava.
hoje quero compartilhar o que aprendi (aos trancos e barrancos), na esperança de ajudar alguém que esteja na situação que estive.
já falei demais!!! vamos pra news de hoje?
1. ignore toda e qualquer ideia de rotina perfeita — é só performance
ando com vontade de falar em mais detalhes tudo o que penso sobre a padronização (até) das rotinas.
parece que, de repente, todo mundo virou eco do daily de alguém que usa esses emojis 🎱🍒❤️🔥✨ ou esses 🦢🩰🎀🫧 na Bio e tem uma rotina que envolve acordar 5 horas da manhã pra fazer skincare com 12 produtos diferentes, correr, malhar, trabalhar ou estudar, assistir série e dormir. aos fins de semana, ir para algum lugar que viralizou recentemente e preparar as marmitas da dieta pra começar tudo outra vez.
cadê o ócio?
cadê os hobbies (que não sirvam só pra postar nos Stories)?
cadê o tempo off-line, o tempo de qualidade consigo mesma (que não envolva só comprar/usar produtos de skincare e registrar cada etapa para postar depois)?
parece que hoje em dia a rotina se tornou uma performance que serve mais para te posicionar como ‘alguém que tem uma vida incrível’ do que para te possibilitar viver uma vida incrível.
claro que é importante se exercitar, cuidar da pele, etc e tal. mas viver em função disso não é o suficiente pra mim.
2. sobre não fazer nada
num mundo que dita que você precisa sempre estar fazendo alguma coisa para ‘se tornar sua melhor versão’ e que mede o seu valor pelo quanto você produz, acho revolucionário.
uma rotina extremamente cheia não é sinônimo de uma boa rotina. você precisa de tempo pra digerir as coisas: os últimos acontecimentos da sua vida, o livro que você leu, o filme que você assistiu, a conversa que você teve com sua amiga ou sua última sessão de terapia.
você precisa de tempo sem estar com a cara enfiada em uma tela ou fazendo a 23ª atividade planejada do dia para que sua mente trabalhe sozinha e coloque as coisas em perspectiva. para tirar conclusões. para entender como você está se sentindo.
sente com uma xícara da sua bebida favorita, sem a companhia do seu celular, e olhe a vida passar pela janela. depois me diga como você se sentiu.
3. criatividade também é músculo
quando eu voltei a escrever, no aconchego do meu Notion, tudo parecia muito, muito difícil, especialmente a parte de conectar as ideias.
depois, quando resolvi criar pro Substack, o Notes era (meio que ainda é) minha maior dificuldade: é difícil reunir ideias do que postar.
meu músculo criativo estava mirrado, fraco, sub-utilizado. assim como bumbuns, uma grande criatividade também demanda treinamento.
apesar do desafio que é voltar à uma atividade criativa, se você gosta de criar e não está criando, você sente um comichão — uma vontade que não passa de gerar alguma coisa, fazer algo acontecer.
isso só se resolve começando, mesmo que o começo seja difícil e as ideias não cascateiem mente afora com tanta naturalidade.
leve sua criatividade a sério. separe algumas horas da sua semana para criar como preferir (claro, sem o celular do lado), e tente, mesmo que o resultado não seja o que você esperava. seu eu do futuro vai te agradecer pela coragem.
4. sobre vício em dopamina
eu descobri o conceito de “menu de dopamina” e achei tudo muito interessante.
consiste em catalogar atividades que te fazem sentir bem e voltar nessa lista sempre que você estiver sem ideia do que fazer, prestes a se render ao próximo vídeo da sua For You.
esse texto muito bom do “The Weekly Scrapbook”, aqui no Substack, mostra como a autora criou o próprio “menu” dela, dividindo as atividades em tipos e distribuindo-as de acordo com as condições financeiras e o tempo disponível.
não coloquei em prática de forma tão detalhada, mas estou priorizando passar meu tempo livre com minhas plantas, revistas, livros ou qualquer projeto criativo que eu esteja fazendo no momento, ao invés de só pegar o celular e deitar.
o que no início era meio forçado agora é bem natural, e a vontade de mexer no celular diminuiu drasticamente.
5. fazendo o milagre acontecer
é isso mesmo, eu li (e gostei!) de um livro de autoajuda. não me arrependo de nada!!!
o conceito do milagre da manhã é simples: iniciar o dia com atividades significativas para você.
o autor inclui atividades como “meditação” e “visualizações”, o que não tenho vontade de fazer, então adaptei a ideia de acordo com minha realidade (home office) e minhas particularidades.
por exemplo, gosto de acordar bem cedo mas demoro a despertar; não gosto de fazer nada ‘correndo’; odeio a ideia de pular da cama, calçar o tênis e ir direto fazer atividade física sendo que nem lembro meu nome.
então é mais ou menos assim que tenho feito:
acordo às 6h
leio por 30 minutos (isso me ajuda a despertar)
atividade física por 30 minutos
caminhada de 20 minutos
banho e skincare diurno (cerca de 20 minutos)
fim! depois disso vou fazer meu café da manhã e me preparar para começar a trabalhar.
o tempo fazendo cada atividade pode ser reduzido ou aumentado de acordo com a sua vontade, o que acho muito legal porque reduz a pressão.
e, apesar do nome do livro ser “O Milagre da Manhã”, se você não é uma pessoa matinal acho que outros horários funcionam — tenho feito um “milagre noturno” também, que consiste em ler, escrever, arrumar a bagunça em casa e planejar o dia seguinte.
6. seus. hormônios. importam.
sinto que esse assunto é tão pouco falado, e não deveria ser assim.
o ciclo menstrual influencia muita coisa, especialmente nossa energia, disposição e sociabilidade.
em algumas pessoas tudo é mais intenso, em outras, menos, mas você muito provavelmente sente um aumento na fadiga e vontade de ficar “na sua” ao longo da fase lútea.
eu acredito, de verdade, que sua rotina precisa comportar isso. existe até nome pra isso: cycle syncing.
é uma questão de respeito por si — especialmente quando sabemos que ao longo da história questões de saúde ginecológica sempre foram pouco respeitadas, diminuídas, caracterizadas como “exagero”, “histeria”.
é também uma questão de respeito pelo seu tempo e por sua energia, e também muito mais eficiente do que se forçar para “superar seus limites” e acabar frustrada e exausta.
o conceito envolve muita coisa (leia mais aqui — em inglês), como adaptar a alimentação e a rotina de exercícios à fase do ciclo, mas o que eu coloco em prática é bem simples e vou resumir aqui:
nas fases folicular e ovulatória faço exercícios físicos mais ‘pesados’, acordo mais cedo, faço a maioria das minhas reuniões, faço mais atividades criativas e que demandem ação (como escrever e pintar).
nas fases lútea e menstrual eu só faço caminhadas leves (quando estou com vontade), cozinho mais, durmo mais, evito reuniões e eventos sociais, se possível, faço mais atividades introspectivas (como ler e ver filmes).
entender e respeitar meu ciclo foi um dos melhores aprendizados que tive na vida adulta. você pode começar com a ajuda de apps como o Flo, que vão te ajudar a identificar quando cada fase começa e termina.
7. a importância de sair da rotina ou ‘sobre fazer o que dá na telha’
talvez tudo o que eu escrevi até aqui faça parecer que descobri a rotina “perfeita” e sou produtiva em tudo o que faço, todo santo dia. não mesmo.
acho que tão importante quanto ter uma rotina é saber sair dela sem se culpar, se julgar ou ver isso como uma ‘falha’.
é bom ser produtiva. mas se permitir não ser é melhor ainda.
acredito piamente que uma rotina não pode ser inflexível a ponto de roubar sua liberdade, nem previsível a ponto de não deixar espaço para experimentações.
o risco e a espontaneidade são partes fundamentais de uma vida com substância — é lá que moram os momentos memoráveis e as histórias pra contar depois.
por isso, faça o que te dá na telha de vez em quando.
vá em um lugar novo sem pesquisar o cardápio antes e experimente algo que você não pediria normalmente. não fique olhando o celular o tempo todo enquanto estiver lá. olhe nos olhos de quem está te atendendo e sorria. não tire fotos (quando é que romantizar a vida virou sinônimo de produzir conteúdo?). volte pra casa por outro caminho. seja dona do seu dia.
e por aí? como está sua relação com a rotina?
seus dias tem espaço suficiente para a alegria? quais as suas estratégias para uma rotina produtiva e feliz? me conta!
PS: caso você vá usar parte desse texto ou das ideias aqui descritas, vou ficar feliz caso você referencie o sempre sete coisas como leitura adicional, ok?
leia sete coisas sobre outros assuntos clicando aqui.
um bjo, um qjo e até a próxima.
A expressão italiana "dolce far niente" significa literalmente "doce fazer nada", o prazer de não fazer nada. Quando você não faz nada, percebe como o tempo passa devagar. Com o celular na mão, as horas voam e, quando você vê, já tem que acordar de novo e começar toda aquela rotina exaustante. Experimentar ficar longe de tudo por algumas horas e perceber que o dia REALMENTE tem 24 horas é muito terapêutico.
O importante é ter equilíbrio entre o real e o ilusório.
amo e preciso do meu tempo sem fazer NADA!
e descobrir e conhecer quando estou na fase lútea MUDOU MINHA VIDA, uma coisa tão simples mas que harmoniza tudo. tenho mais paciência e cuidado comigo e com minha saúde agora