esses 7 textos mudaram completamente minha relação com a internet
recomendações de leitura e trechos comentados
🤧 recado: por motivos de gripe forte, a edição de hoje vai ser mais simples e curtinha. espero que gostem mesmo assim!
desde que criei um perfil no Substack, meu algoritmo tem sido certeiro na recomendação de textos.
aqui eu encontrei inúmeras análises bem fundamentadas e articuladas sobre existir na era do cérebro “lisinho” de tanto conteúdo.
mas, antes de compartilhar esses textos, um desabafo: essas leituras fizeram alguma chave virar na minha cabeça e de repente meu relacionamento com o celular/a internet ficou muito esquisito.
agora, quando estou rolando o feed do Instagram, a maioria dos conteúdos me parece pouco memorável ou pouco substancial.
os únicos Stories que ainda me interessam são os do Close Friends, já que não foram milimetricamente calculados para transmitir uma determinada imagem.
perfis de daily (tirando os de amigas próximas) perderam a graça. todos aqueles momentos “espontâneos” agora me parecem qualquer coisa, menos espontâneos.
dei unfollow em várias it girls porque percebi que na verdade elas apenas pulam de trend em trend e sabem fazer uma boa edição de vídeo.
essa fase esquisita indica que preciso reinventar minha forma de usar as redes/o celular, mas ainda não cheguei lá.
por enquanto, estou no limbo onde tudo virou um grande suco de chuchu e estou cansada da “versão web” de tudo e todos.
pera. acho que esse desabafo faz parecer que quero vocês bebendo esse suco de chuchu comigo. não é bem assim.
acredito que pensar criticamente sobre algo que se tornou parte essencial dos nossos dias é de grande importância.
penso com meus botões que precisamos, coletivamente, “recalcular a rota”. passar pra próxima (e melhor, espero) fase.
com isso dito, vamos pra news de hoje?
1. “Seu perfil no Insta e você”, da news Ovelha Azul
esse texto me trouxe respostas para dois comportamentos que sempre quis entender:
por que a gente gosta tanto de consumir nosso próprio conteúdo (vulgo reassistir nossos Stories várias e várias vezes ou stalkear nosso próprio perfil)?
por que a gente entra, de forma voluntária, em canais de transmissão no Instagram onde o máximo que podemos fazer é reagir com emojis enquanto um criador de conteúdo fala sozinho para supostamente “se aproximar” do público?
eu ainda não tinha percebido que essas duas coisas estão, de certa forma, conectadas.
eis o trecho que fez notar essa conexão:
Influenciadores que fazem uma viagem caríssima para produzir conteúdo sobre ela, e não para vivê-la de fato. Nós, meros mortais, que consumimos esse conteúdo e nos sentimos um pouco parte daquela experiência, mesmo nunca tendo estado lá. Essa ideia de viver “vicariously” - uma expressão em inglês que significa experienciar algo indiretamente através do outro pessoa.
A doidera pra mim é que esse fenômeno de experiência indireta não é só por meio do amiguinho ou do criador de conteúdo. Acabamos vivendo indiretamente pela própria imagem que criamos nas redes: o eu no Instagram viaja, posta foto bonita, e está sempre no melhor ângulo, mas nunca chorou, fez cocô ou fracassou. Esse eu online editado nos dá um gostinho da nossa vida ideal e perfeita, através imagem que a gente cria de nós mesmos.
Leia completo aqui para entender porque gostamos tanto do nosso “eu virtual”.
2. “o que fazer quando um bilionário dono de uma big tech faz um anúncio fascista”, da news intern3t!!!11
e pensar que nossa sociedade mudou pra sempre só porque um dia o Mark Zuckerberg criou uma versão digital do “beija ou passa”. seria esse o “efeito borboleta” mais patético da história?
bem, o que começou como um “hot or not” entre estudantes de Harvard evoluiu para o Facebook que conhecemos, usamos e trocamos pelo Instagram, que logo foi adquirido pelo mesmo Mark, decidido a criar um império virtual que hoje atende por “Meta”.
mas qual é a do Mark Zuckerberg, mesmo? e qual o significado das últimas declarações dele?
“(…) a mudança das equipes de moderação e segurança da meta da califórnia pro texas é a pontuação de todas as outras políticas anunciadas pelo zuckeberg: estamos em plena cibercultura. não é mais uma questão de disputa, o zuckeberg e, portanto, toda a empresa meta, se coloca muito claramente a favor de um único valor, de um único princípio: o controle. e é claro que já conseguíamos notar isso nas práticas da meta, mas agora pela primeira vez o zuckeberg sente que pode assumir esse posicionamento em alto e bom som: ele é um agente da cibercultura. tudo o que ele e sua empresa fazem é na busca de controle, de acúmulo, de padronização, seletividade, filtragem. e ele vai sempre usar a semântica da segurança e da proteção pra sustentar suas decisões e atos”.
nesse texto essencial você vai entender isso e muito, muito mais: o que significa “internet como técnica”? quem são os agentes que constroem essa técnica? como existir e resistir numa internet dominada por Big Techs?
Leia completo aqui para ampliar os seus conhecimentos do que realmente é a internet e a cibercultura.
3. “Your phone is why you don’t feel sexy”, por Catherine Shannon (em inglês)
esse é o meu texto favorito do Substack até agora.
já tive até vontade de contatar a autora e perguntar se ela me permite traduzir, porque queria que todo mundo pudesse ler.
esse ensaio, incrivelmente bem construído, aborda noções de Eros, desejo, instinto, eternidade e como os nossos smartphones afetaram cada uma dessas coisas.
o texto me pegou muito porque há tempos eu vinha pensando numa coisa:
nunca antes as pessoas foram tão malhadas, harmonizadas, donas de tantos produtos de skincare, bebedoras de 5l de água por dia, focadas numa busca delirante de suas “melhores versões”. e, ao mesmo tempo, nunca antes as pessoas foram tão. pouco. sexy.
não vou me estender tanto nesse assunto porque quero dedicar uma news inteira ao que penso sobre a morte do charme.
aqui vai uma tradução livre do trecho que girou umas engrenagens da minha mente e me fez começar a pensar tanto sobre isso:
“A proliferação de dispositivos que nos cercam o tempo todo pode nos ajudar a "entrar em contato" com outras pessoas, claro, mas eles impedem nossa capacidade de entrar em contato com nós mesmos. Uma tela "touch" parecia prometer algo tátil e real, mas ela só nos deixa frios e apáticos. Algo tem que estar profundamente errado quando fazemos sexting da mesma forma que pedimos um sanduíche.
Eros — desejo carnal — é uma experiência corporal, e nossos smartphones fazem um ótimo trabalho de nos tirar de nossos corpos e nos focar em nossas mentes. Na era digital, muitas vezes negligenciamos nossos corpos completamente e os usamos apenas como uma forma de transportar nossas mentes para reuniões. (A ascensão da cultura rave e dos programas de condicionamento físico desde a década de 1990 talvez sejam uma evidência de que sentimos a necessidade de lutar contra isso.) Ninguém se sente conectado, presente, vivo, incorporado ou sexy quando se está no telefone o dia todo”.
Leia completo aqui se você, assim como eu e o Justin Timberlake, quer trazer o sexy de volta.
4. “Against content”, da news Internet Bedroom (em inglês)
mais um texto que me ajudou a conectar vários pensamentos que pairavam soltos na minha cabeça.
esse aqui tocou na minha convicção de que o Marketing de Conteúdo deveria constar no top #10 piores invenções da humanidade.
vejo posts e mais posts falando sobre os aspectos negativos das redes sociais e da portabilidade dos smartphones e concordo, em partes, com essas ideias, mas pra mim o Marketing é quem realmente estragou a festa.
novamente, não vou me estender, porque pretendo escrever uma news inteira sobre o assunto num futuro próximo.
segue abaixo uma tradução livre de um trecho que me fez pensar muito:
“Pense em deixar algo preso em um pote por muito tempo. Sem ar, isolado do mundo, o conteúdo do pote começará a apodrecer. Criamos um vácuo na Internet social, onde cada tela é uma pequena janela na qual podemos assistir (e vivenciar) a lenta degradação do comportamento, das relações e das emoções humanas. Rolo a tela por uma influenciadora a caminho da Disney no meio de um furacão e não sinto nada. Rolo a tela por uma família cuja casa foi destruída e não sinto nada. Rolo a tela por algumas garotas dançando e não sinto nada. Não era assim que costumava ser”.
Leia completo aqui para entender como a saturação de conteúdo está nos dessensibilizando.
5. “The era of beauty standard brain rot”, da news Body Type
eu sou grata por não ser adolescente nos dias de hoje. não consigo imaginar o impacto de passar horas e horas no TikTok e no Instagram vendo milhares de rostos e corpos por dia, sem saber o que é real e o que é resultado de edição, filtro, harmonização, ângulo, ou tudo isso junto.
é triste clicar nos comentários desses vídeos e fotos e ver que o mais curtido sempre é algo como: “me comparei” ou “por que eu não nasci assim?”.
a gente não nasceu pra ver tanta gente o tempo todo, isso sim, e essa saturação está nos levando a lugares muito estranhos.
basta acessar qualquer rede social que em questão de minutos você pode cair em um vídeo que explica, por meio de cálculos matemáticos e intervenções com Facetune, que na verdade a Gisele Bundchen não é tão bonita assim. ela é só “mid”.
“Deslumbre-me, eles pensam. Preciso de mais. Nunca foi tão fácil ser atraente quanto agora, eles pensam. Você pode fazer todos os procedimentos. Você deveria saber como deixar seu rosto incrível. Por que você não está me fazendo olhar duas vezes? Por que você não está se destacando? Por que você não parece um alienígena?
Alienígena pode ser o que é preciso para se destacar na era brain rot do padrão de beleza. Todas nós deveríamos estar fazendo skincare, maquiagem, seguindo tutoriais e fazendo procedimentos como o “básico” necessário para estar “na média” — quando grande parte da nossa cultura acontece na esfera digital e visual, como isso poderia parecer algo além de uma ordem para muitas de nós? Para superar o "genérico", uma pessoa tem que parecer incomum, sobrenatural, quase assustadoramente bonita” (Trad. livre).
Leia completo aqui se você também acha tudo isso bizarro.
6. Criatividade no Ciberespaço Sideral parte I, da news Na Telha
no início dessa edição eu falei sobre minha nova (e estranha) relação com o digital. acho que o que mais me incomoda nisso é que, acima de tudo, me sinto sem inspiração.
por isso, encontrar um texto que aborda a criatividade dentro do ciberespaço foi como um sopro de ar fresco.
saí da leitura não só inspirada, como também otimista com as possibilidades de criar e consumir conteúdo de outras maneiras.
a parte I aborda o conceito de ciberespaço, apresenta outras “Web” que eu desconhecia completamente — a indie web e slow web — e discorre sobre os algoritmos que dominam a Web que conhecemos.
foi difícil selecionar um trecho só porque é tudo muito interessante. escolhi trazer parte da introdução porque quero te deixar curiosa pra ler o texto completo:
“Então depois de muito ouvir geral falando sobre as redes sociais, e observar o fato de que está todo mundo decidindo abandonar navio e se tacar em alto-mar, eu decidi ir um pouco mais a fundo no assunto.
Vou te contar um segredo (nem um pouco secreto): existe um porquê, na verdade mais de um, do porque a maioria de nós sente que ultimamente nossa vontade de viver está sendo sugada fora via universo digital, ou simplesmente como se estivéssemos no automático, sem perspectivas. E eu vou fazer meu caso do porque (quase) tudo gira em torno da criatividade, autenticidade e inovação — ou melhor dizendo, a completa falta desses aspectos”.
Leia completo aqui se você, assim como eu, está buscando novas formas de alimentar sua criatividade.
7. Criatividade no Ciberespaço Sideral parte II, da news Na Telha
“(…) não dá para usar o digital hoje em dia se não for com intenção. Só dá para ser verdadeiramente aleatório — sair dos algoritmos — hoje em dia se você tiver a intenção de ser aleatório. Procure outros pontos de vistas fora do seu e daqueles que são como você”.
na parte 2 de “Criatividade no Ciberespaço Sideral”, Yaci se aprofunda no conceito de criatividade dentro do contexto digital, explicando a “metáfora do escritório”, a ideia de “bissociação”, “contexto azul” e “contexto rosa”.
falando assim, parece complicado, mas o post é uma delícia de ler e muito bem explicado.
além desses conceitos a edição traz também três exemplos ilustrados e ricos em autenticidade e criatividade — dois deles eu amo, aliás: Doechii e a revista japonesa FRUiTS (a maior obsessão da minha pré-adolescência).
Leia completo aqui para uma dose ainda maior de criatividade.
por hoje é só! você tem algum texto para recomendar?
espero que esses textos te façam sentir como eu me senti: cheia de novas ideias, com a cabeça borbulhante de pensamentos e reflexões.
quero muito saber quais textos mexeram com você aqui no Substack! por favor, deixe a sua recomendação nos comentários <3
ah, e caso queira mais conteúdos desse tipo, tenho tentado listar meus textos favoritos de cada semana (ou quinzena) via Notes.
leia sete coisas sobre outros assuntos clicando aqui.
um bjo, um qjo e até a próxima.
Muito bom! Provavelmente, a melhor coisa do meu 2025 foi não ter feed nenhum pra rolar. Ter que intencionalmente buscar notícias me fez passar a lembrar de coisas que eu não lembrava gostar, fazer associações diferentes, estar mais presente em momentos banais (como refeições). Enfim, talvez eu também escreva sobre isso. Parabéns pelo texto!
Acho que esses pensamentos de "como usar a internet e nosso tempo de uma forma melhor?" vai ser a nova busca da nossa geração. Tanto pra parar de se comparar e voltarmos a sermos humanos, até para excercermos mais nossa criatividade, como você disse. Tem 2 caminhos que tenho visto sobre isso, o primeiro é das trends de "hobbies fora da internet", mas como a maioria deles só estimulam um consumo desenfreado para excerce-los (não basta só eu ter o livro do Bobbie Goods, eu preciso de 520 marcadores de texto da marca X, as canetinhas da marca Y, etc). E o segundo é o caminho de voltar aos primórdios mesmo, usar a internet sem um norte. Nesse contexto acompanho os conteúdos como o da Gabbie Fadel no youtube e tik tok, ela simplesmente faz aquilo que paramos de fazer "Vi algo interessante, vou buscar na internet 'como surgiu?', 'como foi feito?', 'quando aconteceu?', 'de onde veio?', etc...". Enfim, cabeça fervilhando aqui sobre quais rumos podemos tomar...